Samanta Zueva com novo Recorde Pessoal
Os objectivos que levaram à criação do projecto run4excellence e posteriormente do clube [4] Run Club, dificilmente encontrarão melhor intérprete do que Samanta Zueva. Esta nova aventura do clube pela Marcha Atlética, corresponde não a uma ligação particular com esta disciplina do atletismo, mas com a vontade de ajudar esta atleta a concretizar os seus sonhos desportivos. Identificámos desde logo esses pressupostos motivacionais, que são para nós, os que realmente conta na ligação de possíveis atletas ao nosso projecto desportivo. Não nos guiamos pelas performances desportivas ou até o potencial individual, mas sim pelos alicerces de formação pessoal que procuramos, para que, possamos ter em trabalho regular, atletas cujos valores se identifiquem com os nossos.
A partir daqui, tudo tem sido mais fácil e este fim de semana, na primeira prova de 10kms marcha, Samanta Zueva fez um novo recorde pessoal realizado no XXXVII Gran Premio Internacional Cantones de A Coruña. Esta é uma das melhores provas de marcha do mundo (em particular na distância de 20kms), o que nos permite perceber o quando ainda há por fazer ao longo dos anos, mas também, proporcionar um pouco mais de motivação para o futuro. A marca de 50:41 nos 10kms, permitiu assim uma melhoria praticamente de 1min em relação ao seu melhor resultado de sempre.
As expectativas iniciais não eram tão altas… Muito poucos treinos de marcha, alguns imprevistos em grande parte da época e falta de oportunidades para ganhar alguma confiança. Como nos disse no final da prova, “não contava fazer melhor do que fiz no ano passado nesta mesma prova, por isso estou muito satisfeita com este resultado, em especial, porque sei o que fiz e o que ainda não fiz, em termos de treino”. Quando perguntámos o que sentiu durante a competição o feedback foi muito interessante: “Senti-me a empurrar o chão como nunca senti.. estava muito solta e sem forçar, sentia que aplicava força no chão como nunca tinha sentido desta forma. Achei a prova divertida por ter estas sensações, mas a pensar que poderia pagar um preço lá mais para a frente, mas não… Senti-me mesmo bem em toda a prova”.
“Senti-me a empurrar o chão como nunca senti.. "
Recuando ao meses anteriores, no que diz respeito ao treino, não há dúvidas que as opções que tomámos ao nível do treino de força, surtiram o seu efeito. Os volumes de treino têm sido francamente baixos. Samanta fez apenas 2 treinos de marcha contínua com mais de 45min, mas muitas experiências ao nível do treino de força e de trabalho intermitente e intervalado. Alterar os défices musculares, tem sido a prioridade desde o início da época desportiva e ainda existe um longo caminho a percorrer a este nível. Ainda assim, os níveis de força resistência de toda a cadeia muscular posterior já é ligeiramente diferente, o que terá conferido em prova, as boas sensações que a Samanta nos reportou.
Mas tem existido igualmente um profundo trabalho de como encarar o processo de treino e de competição. Os seus feedbacks são preciosos… “nestas provas temos a oportunidade de nos vermos junto de atletas de nível muito superior ao nosso e, isso ajuda-nos a crescer e até a perceber o quanto ainda temos de trabalhar para um dia nos podermos aproximar deste patamar. Eu fui com o objetivo de não competir com ninguém, além de comigo mesma e assim o fiz num diálogo constante sobre o que fazia e como podia fazer melhor. Lembro-me que no ano passado assisti muito ao que me rodeava durante a prova e que este ano, nem me recordava se esteve calor… Consegui focar-me dentro de mim própria, no que tinha de fazer, no que tinha de sentir e como tinha de gerir processos internos que tenho aprendido a descobrir. Uma prova destas é uma aventura no nosso corpo, sentimos muita coisa e este diálogo com o que se passa faz-nos crescer imenso. No dia anterior senti-me anormalmente tranquila e nada tensa com a prova, este é um ponto que estou a aprender a melhorar, porque é novo para mim”. Mas vai ainda mais longe no raciocínio; “o que me motiva cada vez mais, é o processo de treino e não tanto a competição. Sei que posso ter um enorme controlo no processo diário de treino e é aí que tenho de apostar tudo e não na competição em si, muito em especial nesta fase da minha carreira desportiva”.
Quisemos também perceber quais as suas maiores dificuldades ao longo destes 7/8 meses de treino, sobre o que nos refere; “sem duvida a gestão do tempo… Felizmente tenho tido um apoio muito importante para mim por parte do ISCAP, onde estudo, para que os meus horários me permitam treinar, mas ainda assim, estou apenas a fazer algumas cadeiras e não o ano completo, para ser possível manter os meus treinos. Sair de casa para ir para os treinos envolve quase sempre um percurso de transportes públicos não inferior a 1h40min e pode chegar às 2h quando tenho de esperar de ligações. E só falamos em fazer Gaia (Gulpilhares) até Matosinhos. Tive de me preparar mentalmente para que isto não me afete, mas só de pensar que depois do treino tenho de regressar ao mesmo percurso, é muito tempo perdido em transportes… Mas encaro isto como os passos que tenho de dar para chegar onde quero e não espero facilidades. Tenho apenas de ajustar o meu esforço e a minha mente para ser capaz de ir ultrapassando todos estes obstáculos”.
Em termos de treino, determinámos alguns passos importantes muito simples: (i) Desenvolver o limiar anaeróbio na corrida, através de sessões de volume significativo a intensidades que permitem obter esse objetivo; (ii) Fazer o mesmo com a marcha, naturalmente com intensidades avaliadas para a marcha; (iii) Melhorar de forma significativa os níveis de força resistência. Apesar das enorme dificuldades que temos tido nesta área, tem sido possível obter algumas importantes melhorias, e por fim (iv) Sessões intermitentes de intensidade elevada tanto na marcha como na corrida. A conjugação dos treinos de corrida com os treinos de marcha tem permitido nesta fase uma ligação constante entre as adaptações que procuramos implementar em 3 domínios: i) Mecânico; ii) Fisiológico e (iii) Níveis de força.
Sabemos que o trabalho que temos pela frente é gigantesco, mas o foco no processo, nas tarefas e nos objectivos destes 3 pilares vão permitindo adaptações que até se podem traduzir em resultados desportivos, sem que, essa seja a preocupação central do processo de treino nesta fase. Por isso mesmo este resultado tem ainda um significado mais especial, porque valida uma opção de treinos particularmente arriscada.
“Mesmo sendo a níveis de prestação completamente distintos, ter a oportunidade de competir por momentos com as melhores do mundo é uma sensação incrível. Ajuda a sonhar…“