Como é correr ao ritmo 2’15" por km?
Para a maior parte dos corredores, sejam eles recreativos ou mais comprometidos, correr a 3min/km já parece muito rápido ou, para alguns, uma miragem. A realidade é que existem corredores que não correm na estrada e que se focam em melhorar as suas capacidades de modo a conseguirem correr o mais rápido possível. Nas distâncias de meio-fundo, o caso mais marcante acontece com os corredores de 800m. Com um recorde mundial de 1:40.91 de David Rudisha, esta distância é um bom exemplo da espetacularidade deste evento, pela velocidade obtida e mantida ao longo de duas volta à pista.
Para conhecer a realidade dos corredores de 800m em Portugal, fomos falar com aquele que tem sido, nos últimos anos, o corredor com melhores resultados nesta distância, Miguel Moreira.
1. Correr a 1’47"96 (recorde pessoal) corresponde seres capaz de correr a 2:15/km, durante quase 1km. Como se consegue obter a capacidade de correr a este nível?
É interessante a questão ser colocada dessa forma. Agrada-me igualmente a perspetiva de conseguir correr perto de 1000 metros em menos de dois minutos e vinte segundos, numa prova em que a conjugação entre velocidade e resistência é fulcral.
Para correr a este nível é naturalmente necessário uma enorme entrega física e mental nas sessões de treino, procurando intensidade nas séries e noutros treinos específicos, bem como estar constantemente atento em melhorar os aspectos técnicos e os índices de força. Preservo um objetivo muito simples: correr cada vez mais rápido e “solto".
2. É fácil ser corredor de 800m num país com pouca tradição nesta disciplina?
A maior dificuldade em ser corredor de 800 metros em Portugal assenta na ausência de provas com elevado nível competitivo, o que implica procurar oportunidades competitivas além fronteiras. Para evoluir é crucial confrontarmo-nos com provas muito rápidas e essa tem sido a minha preocupação. Estas competições têm de ser bem planeadas pelos organizadores, uma vez que a presença de “lebres” e a capacidade de nos mostrarem que vamos correr para ritmos muito altos, são cruciais para nos fazer acreditar que podemos melhorar.
3. Como tem decorrido esta época desportiva?
Estou satisfeito com esta fase inicial da época, sobretudo porque estou ciente que me encontro num processo de adaptação a um novo método de treino e que isso implica aguardar até que este trabalho se traduza em resultados cronométricos. No plano competitivo, este mês de fevereiro procurei níveis elevados de competição em dois meetings internacionais, um em Gent e outro em Gotemburgo. Neste último obtive 1.51,03 o que, até ao momento, representa a melhor marca nacional da temporada.
4. Tinhas mais expectativas para este período de pista coberta?
O período competitivo em pista coberta é muito curto e as oportunidades competitivas são escassas. Apesar destas condicionantes, esta fase é fundamental para fazer uma avaliação da forma física e dos aspetos a serem melhorados para aparecer mais forte na época de verão.
Estou satisfeito com a progressão nos treinos, com as novas aprendizagens e as adaptações que estou a assimilar. Tenho confiança no trabalho e no compromisso que estou a colocar em cada sessão e que no final o tempo, neste caso com um significado múltiplo, será um bom aliado.