ÉTICA É DAR O EXEMPLO
Encontrar formas de financiar uma prática desportiva de élite é tremendamente difícil e cada vez mais, um percurso repleto de armadilhas. Estamos numa fase de desenvolvimento do desporto em que a procura da excelência passa em grande parte pela necessidade de obtenção de melhores condições de treino, dos melhores sistemas de avaliação, da realização de estágios de preparação, de formação exigente de equipas técnicas ou até de oportunidades competitivas cada vez mais dispendiosas. No projecto run4excellence vivemos estes desafios desde o início. Os apoios mais básicos a uma prática desportiva de rendimento pura e simplesmente não existem, para além dos importantes apoios directos dos clubes aos atletas, que naturalmente não chegam para tudo. A criatividade e o trabalho é a chave de um processo extremamente exigente: obter financiamento em que a ética esteja acima de tudo!
A ética no desporto é por vezes uma palavra vaga que nem sempre se traduz em elevados sentidos de responsabilidade nas mensagens que se dão à sociedade e em particular aos jovens praticantes desportivos altamente permeáveis. Ter ética é ter respeito pelo adversário, fomentar princípios de amizade e cooperação no desporto, respeitar as regras ou ser contra a utilização do doping. Mas para nós deve ser muito mais do que isso. Ética é também dar exemplos para uma sociedade mais saudável em que o desporto pode e deve assumir um papel decisivo, motivador e exemplar! Ética é também dizer não a apoios que estimulam os jovens a adotarem um estilo de vida menos saudável. É ter a coragem de dizer não a produtos e marcas que à custa do seu sucesso financeiro procuram fazer proliferar produtos que deveriam estar completamente afastados dos mais jovens e que não deviam ser apresentados como fator de sucesso na sua prática desportiva. Ética é não aceitar esconder mensagens negativas para os jovens sobre estratégias de marketing que escondem perigos para a sua saúde e bem estar através de mensagens aparentemente positivas que têm tanto de promissoras como de comprometedoras.
A ética é dar o exemplo. É dizer não a produtos e marcas que usam o desporto e a fragilidade dos jovens para lhes fazer chegar falsas promessas, atacando a sua saúde e bem-estar. A ética é não aceitarmos de ânimo leve qualquer tipo de apoio por mais urgente que ele seja para a sobrevivência desportiva dos atletas, clubes ou federações. Precisamos de mensagens claras vindas dos atletas de referência para os mais jovens e não só… Aos mais jovens temos de somar uma enorme quantidade de praticantes desportivos de idade avançada que se procuram inspirar no sucesso dos atletas de élite como forma de fomentarem uma pratica desportiva saudável. São cada vez mais e precisamos de um número crescente destes praticantes para reduzirmos o impacto brutal das doenças associadas a um sedentarismo crescente e preocupante da sociedade actual.
Vivemos tempos difíceis no desporto em Portugal. Os apoios do estado ou federações deviam chegar aos atletas e aos clubes mas não chegam… Perdem-se não se percebe muito bem onde e o desespero toma por vezes conta de muitas decisões. Mas a escolha por uma prática desportiva de rendimento é também a escolha por um mundo melhor, por um incentivo incondicional a uma prática desportiva, que deve ser positiva, construtiva e honesta. Não pode, nem deve valer tudo! Os atletas de élite devem ser exemplos de formação, de cidadania, de ética e de respeito pelos outros. Devem ser agentes de inspiração para todos e principalmente para aqueles que seguem os seus passos de forma atenta e que se inspiram nas suas opções de vida e claro… nos produtos que utilizam, nas marcas que escolhem. Tanto jovens como os mais veteranos precisam de bons exemplos. Precisam de atletas de élite que antes de aceitarem um envolvimento com uma marca ou produto, pensem nas mensagens que querem passar e como devem querer ser vistos… Se assim não for, não serão de élite! Porque o atleta de élite só o consegue ser quando inspira os outros muito para além dos seus resultados desportivos.
Numa época em que muitas vezes o poder do marketing agride os valores mais estruturantes do desporto, ser ético é dar o exemplo e saber dizer NÃO a uma utilização infeliz da imagem que um atleta não deve passar para os outros. E sim, acredito que um dia, mesmo que distante, existem muitos valores que somados aos resultados desportivos irão mostrar verdadeiramente quem foi um determinado atleta. Princípio válido para Federações, Clubes ou Estado, que devem ser sempre agentes de boas práticas e boas decisões que salvaguardem os jovens e a sociedade em geral. O retorno financeiro obtido não pode ser tudo, porque existem outros valores que têm de ser bem mais importantes e estruturantes.